Ressurreição dos Mortos - [Sobre o Inferno 6/11]


Nas palavras do amargurado Jó vemos o primeiro desejo humano bíblico pela ressurreição.

“Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança. Chamar-me-ias, e eu te responderia, e terias afeto à obra de tuas mãos.” – Jó 14:14-15

Posteriormente nas imagens proféticas de Isaias, nos oráculos de Oseias, e no famoso vale de ossos secos de Ezequiel, vemos a sugestão de que Deus pode devolver a vida a Israel. Não algo literal a ser interpretado como a ressurreição dos mortos, mas uma ressurreição do povo como nação.

“Como a mulher grávida, quando está próxima a sua hora, tem dores de parto, e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós diante de ti, ó SENHOR! Bem concebemos nós e tivemos dores de parto, porém demos à luz o vento; livramento não trouxemos à terra, nem caíram os moradores do mundo. Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos. Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o SENHOR sairá do seu lugar, para castigar os moradores da terra, por causa da sua iniquidade, e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais os seu mortos.” – Isaias 26:17-21

“Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o SENHOR. Então profetizei como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia neles espírito. E ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo.” – Ezequiel 37:4-10

“Vinde, e tornemos ao SENHOR, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele.” – Oseias 6:1-2

Mas a ideia clara e literal de que um dia os mortos serão ressuscitados por Deus e levantarão de suas tumbas, aparece somente nos registros do período Intertestamentário. Note que em Sabedoria e Macabeus (inclusos nas bíblias católicas, mas não nas protestantes) só existe ressurreição para os justos.

“Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz! Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade, e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si. Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto. No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.” – Sabedoria 3:1-7

“Prestes a dar o último suspiro, disse ele: Maldito, tu nos arrebatas a vida presente, mas o Rei do universo nos ressuscitará para a vida eterna, se morrermos por fidelidade às suas leis. Após este, torturaram o terceiro. Reclamada a língua, ele a apresentou logo, e estendeu as mãos corajosamente. Pronunciou em seguida estas nobres palavras: Do céu recebi estes membros, mas eu os desprezo por amor às suas leis, e dele espero recebê-los um dia de novo. O próprio rei e os que o rodeavam ficaram admirados com o heroísmo desse jovem, que reputava por nada os sofrimentos. Morto este, aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, e este disse, quando estava a ponto de expirar: É uma sorte desejável perecer pela mão humana com a esperança de que Deus nos ressuscite; mas, para ti, certamente não haverá ressurreição para a vida. ” – 2 Macabeus 7:9-14

A maioria dos eruditos acreditam que apesar do livro de Daniel ser canônico foi escrito no período intertestamentário, tem um estilo de escrita e uma teologia típica desse período. De acordo com Daniel, não só os justos ressuscitarão.

E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente. E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará.” – Daniel 12:1-4

Nos escritos de Josefo, vemos que no judaísmo existiam facções que acreditavam na ressurreição, como os fariseus; e facções que não acreditavam, como os saduceus. 

Essa ideia de ressurreição dos mortos do judaísmo é única. Na mitologia grega os deuses ressuscitavam assim como Jesus ressuscitou, mas uma a ressurreição escatológica de toda humanidade era um conceito inexistente. Vemos isso no discurso de Paulo no Areópago.

“E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.” – Atos 17

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